sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A mana

É luz que um dia quiseram apagar
Com mentiras em pele de cordeiro
Antes tarde do que nunca acordar do pesadelo
Do que sofrer para sempre em prantos ao relento

Quem já passou sabe das mil promessas
E das tantas juras de amor
A história em looping se repete
Quem sentiu conhece o que na verdade é dor

Mana, o pior já passou
E estendo minha mão para lhe ajudar
Nunca faltará empatia no coração
De quem um dia já esteve em seu lugar

Podem esbravejar ofensas por aí
Chamar-nos de loucas da relação
Dane-se o gaslighting deles
Do karma não terão proteção

Brilhe como nunca e não deixe de sonhar
Há muito chão pela frente ainda
Os que de fato a amam sempre vão lhe apoiar
Desejo a você muita felicidade, querida!

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Anomalias e selvageria

            Cai em um ninho de cobras e não hesito em falar na estranha experiência. Nadei diariamente no veneno que despejam com mais intensidade que a água numa cachoeira. Mas se engana quem acredita que eram apenas peçonhentas comuns. Uma mutação fez uma delas cega e a outra, com fortes pés para pisotear. Quem contestasse alguma delas em qualquer aspecto seria dizimado com esses artifícios infalíveis.

            Não enxergando a realidade além do que deduzia por escutar os ruídos, o bote equivocado da primeira era inevitável. E quando notava tardiamente a arte que fizera, logo regurgitava a vítima com desespero, porém ela já se encontrava morta. Mesmo tendo visão perfeita, a outra era bem mais deficiente na hora de encarar a realidade, afinal só conseguia ser palpável aquilo que lhe fortalecia e a obedecia. Seu momento com a presa era bem mais lento, entretanto muito mais doloroso. Agarrava o ser indefeso, lambia com sua língua bifurcada como se fosse sua cria e esboçava um falso sorriso. Eis o momento em que os pés calejados e inesperados tomavam a postura oculta pelos seus atos em pele de cordeiro. Erguiam-se bem alto e, antes que pudesse perceber a vítima já estava no chão um pouco deformada. A dança era repetitiva até sobrar quase nada, nem mesmo a sua essência. O barulho era alto e me ensurdecia. Algo enlouquecedor.

            E naquela brincadeira com o corpo, notei que o animal lutava para viver. Não adiantava o deboche posterior da víbora que o surpreendia com mais um arrastar de língua em sua carcaça. O ser não queria ser vítima, mas sim guerreiro. A batalha em que travava era para trazer a tona tudo aquilo que acreditava e tentar ensinar a decência a predadora. Só que ela sempre se portava como desentendida, mesmo que fosse mais inteligente que a média de sua espécie. A primeira se posicionou e tentou intervir, todavia era em vão. Desconhecia o que diziam em sua comunicação primitiva, só que me arrisco a supor o óbvio da fala da carniceira: “Necessito de sua morte para me tornar feliz, então isso não será possível”. Desossada, a presa caiu no chão após ser cuspida. Já não tinha mais aquele brilho no olhar. 

sábado, 18 de outubro de 2014

Domados


         A minha cidade anda peculiar de uns tempos para cá. Não sei dizer ao certo, mas vejo inúmeras pessoas por aí passeando com animais de estimação. É o fenômeno do primeiro pet que se alastra pelos quatro cantos dessa mistura de arquipélago com continente que é a capital. Um leque de opções está aberto pelas ruas, onde vemos desde espécies de pequeno porte como hamsters no conforto de suas gaiolas até os de elevado tamanho com alguns cachorros. Só que me surpreende saber que uma tipologia desses últimos citados está com seus índices nas alturas.
Quem disse que o cão é o melhor amigo do homem está mais do que equivocado, pois nesse caso é da mulher. Seres que se encaixam nessa classificação possuem uma tendência de ciclo de vida rigorosamente seguida. Quando nasce, o tal está inserido em um cenário amoroso que perpetuará até que ocorra a fuga da redoma de vidro protetora. Há casos em a bolha que o envolve fica instável e explode por motivos banais. Em ambos os casos as criaturas se apresentam fragilizadas, mas logo conseguem se reerguer.
Sem as amarras da vida, seu crescimento é desenfreado, totalmente liberto das preocupações cotidianas. “O que vier é lucro” é o lema que mais se encaixa com o período. Revirar as latas de lixo não é um problema, pois um garimpo para tais não faz mal a ninguém. Há quem esteja de olho nas carnes rodando nos espetos das padarias e churrascarias. Alguns se arriscam com artimanhas, outros esperam que suas caras de tristeza convençam um funcionário a dar um empurrãozinho. Quem se lambuza primeiro de tanta comida é visto como um vencedor.
Todavia, o auge da vida dessa espécie já não tão rara assim traz sinais mais distintos que o comum. A sensação de solidão era consequência do cansaço da vida desregrada. É nesse momento que um alimento vai ser escolhido sem pretensões, somente para preencher o vazio de algum modo. Sem certo cuidado, o pedaço de carne se torna de grande apego e o transforma em semelhante. A essência animalesca igualada exala uma atração descontrolada. Há a perda da razão, e o apelo para um subjetivo muito mascarado. Seria então um preparo de terreno para mais uma evolução desse antigo alimento: a mulher.
Voltar a um lar aconchegante em que a dona molde conforme suas necessidades se torna não mais um empecilho para cada criatura nessa situação. Eis o início de uma plantação de ideias, opiniões e decisões a serem tomadas em cima de seu crânio. Enraizadas, essa união daria frutos que só podem ser tratados e colhidos com quem lhe pertence. Surge então o instante no qual a coleira com registro é finalmente colocada. Ato simbólico de um pertencimento planejado minuciosamente.
A ilusão toma conta rapidamente como uma doença de altos riscos. O mundo antes desbravado pelo bichinho tem suas portas fechadas, lacradas. Os horários de passeio, além de disponibilidade eram traçados e retraçados muitas vezes pela dona de cada um. Em contato com eles, essas se portavam como grandes salvadoras de suas vidas. Ao saírem do recinto onde estavam, todas recriavam um show de horrores em uma edição especial de insultos e depreciações. As múltiplas facetas são tão eficientes que proporcionam o poder de manipulação. A partir desse momento começa uma dura caminhada para o abismo. A torcida é pelo despertar mais breve possível antes que um desastre ocorra: a morte do eu.

Os devaneios dessa mente parecem tão irreais, mas infelizmente são concretos. São casais sendo criados por todos os lados seguindo o mesmo modelo que suga sempre a energia do outro sem ao menos notar. Não que um personagem tenha uma capacidade maior que a outra. Ambos são iguais nesses e em tantos outros quesitos. Talvez comparar ao animal possa não ter sido uma das melhores escolhas, porém captura muito bem o racional sendo deixado de lado e a pessoa se inserindo em atitudes primitivas perante situações extremas. E mesmo com tantos alertas, a grande maioria passa por todos os estágios e só no tardar deles descobre a realidade. Visto os que não preferem adquirir esse conhecimento, apenas inicio a playlist com  Doghouse do No Doubt. Escolha perfeita para lembrar os que já estão em péssimos lençóis. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Gota

Dias nublados certamente causam aquela preguiça inigualável, mas não na primavera. Qualquer garoa que cai nesta época do ano encanta seja lá onde estiver, sendo apoiada na janela do lar ou encostada em algum muro no meio da cidade. As danças que as gotas realizam com e sem sincronia no ar transportam para reflexões aprofundadas em inúmeras questões da vida. 

Os olhos acompanham ansiosos seus rastros pelas paredes ou vidros pela cidade até o seu sumiço. Quando estão em processo de queda atraem para um olhar mais aproximado. A busca pelos detalhes de cada gota em meio a simplicidade de sua composição remete a tamanha fascinação. Quando reflete o florido que a estação benzeu com tais águas também mostra uma visão distorcida, mas que a torna cada vez mais bela pela sua singularidade.

No momento em que surge perante algum local ou objeto grosseiro em meio as construções de concreto carrega mais do que leveza. Cada uma que passa por algo dessa natureza traz a beleza perante os limos, as cracas, as poeiras, os fungos. As gotas acabam por lavar as imperfeições que muitos preferem exaltar, exibindo o que tem de mais precioso perante tudo isso. Ah se isso acontecesse bem mais conosco...





 Nikon D3100, f/5.6, 1/250s, ISO 200, 31 de outubro de 2013, 09:29




sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Fugere urbem, mas de Vitorinha

Correria é a palavra-chave da rotina. Cotidiano que perde a essência do pacato principalmente com o anúncio do fim do período. Não é apenas mais um, mas sim o mais complicado. Tropeço nas dificuldades objetivando não cair, sabendo que existirão coisas piores pela frente. Cada respiração parece um sufocamento. Entala o estresse e o mesmo vai acumulado, podendo ser liberado com um cutuque de vara curta. Não sou onça, mas o estrago é feito de mesmo modo. 

carpe diem já retornara e quicava na mente após Dead Poets Society. Fugere urbem surgiu de supetão, mesmo não se encaixando 100% no contexto. Sim, queria a fuga do corre-corre dessa Vitorinha tão agitada. Queria poder respirar outros ares, buscar a tranquilidade que não tinha há tempos. Não me contento com o parque perto de casa, muito menos com a praia. Queria me ver longe do traje próprio para carregar tanta coisa, a tal da minha cruz. Não pretendo me manter longe de meus sonhos, mas uma pausa, mesmo que bem breve, seria ideal para suportar esta luta. 

A solução do que encucava parecia ter chegado mesmo que fragmentada. Foi só seguir a pontualidade nos trilhos, se acomodando no lugar demarcado. Não imaginava que ali a visão daquela situação deixaria de ser turva e passaria a estar azul como o céu no momento. Já diriam que os olhos são a janela da alma, mas percebi aquele instante como o contrário. Não hesitei em registrar fotograficamente, nem um pouco mesmo. A imagem fez o seu papel mostrando que o termo já se aplicava, apesar de ser pseudo puríssimo. Mesmo fugindo de uma cidade para outra, estar ao lado da pessoa amada já carrega toda essa sensação de paz e liberdade dos problemas cotidianos.


     Nikon D3100, f/4.5, 1/1000s, ISO 400, 14 de outubro de 2013, 14:25:55



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Olhares expostos

No passado, quebrava um galho. No presente, passos largos sem tirar o foco nos estudos. No futuro, a pretensão de continuar neste rumo. A fotografia passou por constante transformação em todo o percurso desta vida mundana. Aquele botão que apertava mirando de qualquer jeito a câmera na direção de meus pais se tornaria apenas uma ação entre muitas outras na hora de se fotografar. Do conjunto da obra, o olhar talvez seja o ponto que mais transitou pelas minhas incertezas, sonhos, história de vida, entre outras coisas. O tal iniciou tímido, arriscando algumas pequenas mudanças, mas depois se portou preparado o suficiente para arriscar. Foi neste momento de rumos acadêmicos que surgiram os primeiros frutos, carregados de significados e reflexões sobre diversos temas.

A preocupação deixou de ser atrelada somente a questão estética, fazendo com que já sentisse incomodo em ouvir comentários vagos dos demais. Levantar discussões sobre aquele produto final, o que ele significa, o que intriga, apontar suas particularidades, seria o ideal. A fotografia não é só um documento como dizem, mas também uma arte. Principalmente uma arte que, aliás, cabe a cada um realizá-la de sua própria maneira sem esquecer que não é simplesmente um botão que realiza tudo.

A partir deste momento, o meu ninho de pensamentos, devaneios, histórias e afins também será invadido pelas fotografias que produzi a cada passo neste caminho até avançado. Dividí-las com quem sabe um pouco da minha essência como escritora, ou seja lá o que vocês me intitulam, aparenta ser um tanto quanto adequado, correto. É reforçar a reflexão, mas sendo esta a do olhar sobre as coisas da vida. Será abordado elementos que vão desde uma sujeira no chão até algo que tenha sido projetado somente para encantar olhares. Composições simplórias e complexas terão sua vez, além da exploração de ângulos distintos. E o portfólio da vida está aí, renovando a cada dia.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

B. N. D.

Nada é inadequado no tempo do coração. Não há dias contados minuciosamente, mas sim uma completa ansiedade. As expectativas explodem a cada riscada no calendário. Onde existia medo, receio, agora descansa o mais sincero dos sorrisos. Sentir tamanho frio na barriga é normal, questiono. És sensação tão formidável que sussurra aos ouvidos todo aquele clamor por mais. Fica marcado em cada toque carinhoso entre os fios de cabelo. O modo que os lábios de encaixam com ternura e não querem mais se soltar. Nada é perfeito nesse mundo, mas arrisco em dizer que exista exceção nos momentos, mesmo que tenham como frutos vários hematomas. É no cheiro que exala e se fixa onde passeia pelo corpo. Como seria sensacional passar horas encarando tais olhos, interrompida pelas risadas bobas. Se for para derramar lágrimas, que seja pela saudade. Ninguém é culpado de sentir algo tão intenso, mas é sim abençoado. Tão inédito, tudo isso envolve e grita "sim, tola, você o ama!"


Terça, 8 de outubro de 2013

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Monólogo do adeus

Apenas respire, e respire
Mas não espere disso solução
Lhe fizeram de objeto, foi dito
O alerta dos outros não foi em vão

Perante a todos, ele endeusou a cona
De uma qualquer tão mal vista
Já não sei se dói mais as vistas
Ou a mente quanto a inteligência não existente

Criticou em meio a hipocrisia
Dissimulou em meio a verdade
Apagar aquilo talvez seja sensato
Ser feliz de fato é mais do que necessário

Se procurar, não será vista
Assim como a ilusão criada
O oásis que ele colocou em desuso
É uma realidade mais do que amada