sábado, 25 de dezembro de 2010

Tempo de mudar

As baratas moviam seus pares de patas rapidamente na calçada. Passos lentos e cansados quebravam o silêncio da madrugada. Os pés iam atritando com o asfalto, do mesmo modo que os pensamentos iam se atritando com o pessimismo e com os sonhos. Sua mente vagava como um mendigo bêbado que não mais sabia o que fazer da vida. Nem mesmo ela sabia, de fato.

Respirava fundo enquanto carregava uma pequena mala, que balançava como um pêndulo. Seria o relógio da vida, talvez? Movia em tal velocidade que, realmente, não duvidava. Aquele ano havia voado. Uma hora estava a comer romãs, esperançosa ao olhar os poucos fogos que a pequena cidade preparara. Outra, guardava rancor pelos que haviam a machucado pelo caminho. Chutando as pedrinhas que ficavam aleatoriamente pelo caminho, deixava de lado alguns problemas. Lembrara de alguns ao notar uma goma de mascar velha grudada em sua sola. E pelo jeito, aquilo parecia não sair de jeito nenhum . Buscava respostas para seu "lead", mas essas pareciam impossíveis de se achar.

Point cheio, rua lotada. Uns já cambaleavam alegres segurando a sua milésima garrafa de cerveja. Via aqueles rostos desconhecidos sorrindo, despreocupados. Sorriu. Era hora de abrir a boca, olhar nos olhos, sorrir mais, sair mais, lutar mais pelos seus sonhos. Era hora de mudar. Era a hora de me encontrar.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Coisas da Madrugada

Abriu a porta, jeitosamente. Pisou no chão, quietosamente. Rodou a chave, silenciosamente. Bateu o portão, carinhosamente. Fugiu, bebadassamente. “C e U”, como diria Waldo Motta.

Não confio mais em nada, nem no silêncio da madrugada.

Nada é mais como antigamente. Minha geração não tem movimento literário.

Poft, puft, nham. Estourou, e agora Josefa? Corre! Sebo nas canelas e nos cabelos. Fez besteira, vomitou besteira. Está aí a cria.

Ele apontou pra lá, apontou pra cá, quase que nasce verruga. Riu e riu e “trollou”. Posso defenestrar agora?

Para comprar a Ice da escapada de toda a semana vendeu ingresso do Restart.

Onde está Suruleia?

Um dançou Lady Gaga e o outro chorou.

A falta de uma letra já transforma a palavra em besteira. Desnecessariamente necessário para alguns. Gosou dessa?

Achei a figurinha! Vale repetida? Pensando bem...Então ela rasgou e jogou no lixo. Fim de papo.

Bafo, Bafo, Bafo , Arriu, Arriu, Arriu

Vou na Puta del Leste, um beijo.

Annoying Palito, prazer.

“Perdi dois quilos jogando Nitendo Wii”. Vi na revista.

Boca do Inferno, apetite de cão.

Chocomia? Não, chocolate.

Deram tiro de descarga de carro. Mendigo dormia que nem pedra. Meretriz na rua pra lá e pra cá. Nuvem de fumaça vindo do Ilha. Era de sábado pra domingo.

Homem cabeludo, sabonete hamster.

Vamos habibar muchachos?



(‎domingo, ‎5‎ de ‎dezembro‎ de ‎2010, ‏‎02:46:55)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Cenas de um dia qualquer

A máquina passava suavemente pelos caminhos. Os fios não tão grandes assim caiam como árvores sendo derrubadas em plena Amazônia. Um menino com enorme jaleco apressadamente varria o estrago. O moço já sentia falta dos cabelos.

- Aí Tonico! Uma belezura.

- Tem certeza mesmo?

- Absoluta. Quer ver no espelho?

Tonico fez sinal positivo. O dono da espelunca entregou o espelho ao funcionário. O garotinho chiou quando Seu Mameluco pisou sem querer em sua perna. O velho ranzinza rosnou e cutucou a criança com a bengala.

- Vai trabalhar, desgraça!

- Ô pai, pega leve com ele.

- Isso que dá ficar mimando filho alheio. Ainda mais de Chico Olho Gordo!

Uesley era filho do vereador. Em plenos dez, onze anos, reclamava da vida por completo. Insatisfeito com a ingratidão, Chico mandou a criatura trabalhar. E lá estava tropeçando no jaleco e caindo no chão. Tonico não aguentou e soltou a risada. Eis que então surge Lizete vestindo um vestido florido e curto. Seu Mameluco desperta do sono e olha, doido.

- O senhor tire os olhos de minha irmã!

- Uma olhadinha não faz mal. Qualquer um olha, oras.

Tonico fitou a barbearia inteira olhando. Uesley quase que cai de novo. O jovem paga o velho e dá uma moedinha para a criança. Pega a irmã no braço e a leva para fora do estabelecimento, carregando seu capacete. Era motoboy.

- Que porcaria é essa mulher? – disse, puxando o braço dela.

- Deixa de ser grosso! – se soltou e apontou com o indicador na cara dele – Escuta aqui Ton...Você acha que tem esse direito todo? – foi e voltou na calçada, como se estivesse desfilando – É o vestido de Cidinha. Vesti para ver se estava bom.

- Duvido! Ela não tem um corpo assim.

- Duvida né? Venha cá para a casa de Cidinha – disse andando em direção a casa.

- Não posso – sentou na moto e riu – Tenho que trabalhar.

- Se fosse para trabalhar já estava nas ruas desde manhã.

- Tive que fazer um bocado de coisas.

- Bater papo é por acaso muito o que fazer?

- Bem... - colocou o capacete olhando para a avenida – Tinha assuntos pendentes.

- Fingirei que acredito nas suas desculpas esfarrapadas de sempre – se aproximou novamente da barbearia e sorriu – Pegarei minha tesoura que Seu Mameluco não quis devolver e vou na Cidinha mesmo assim.

Tonico, já possesso com a mais velha, acenou com a cabeça, ligou as economias de três anos e foi embora. Lizete imediatamente fez sinal para Uesley. Enquanto isso tirou uma folha de papel do pomposo decote e escreveu com a caneta que prendia seus cabelos palha de aço. Olho Gordo Junior abriu a porta, pegou o papel em meio as risadinhas sutis dela. Correu para dentro e entregou que nem pombo correio. Filho de Seu Mameluco sorriu e saiu.

Josué não era bem dotado de aparência. A barba crescia de um jeito irregular, mas dizia ser seu charme. Possuía uma cabeleira negra pingando óleo. Falava também que era charme. Mas não negava que depilar as pernas não era. Tanto que vivia de calça. Na verdade, nem tanto.

- Não ia na Cidinha?

- Cidinha? Aquela baleia? Essa roupa era – roda lentamente, exibindo a roupa e atributos – para você.

- Para mim? – disse em tom sutil enquanto a envolvia.

Seu Mameluco resolveu ir na calçada respirar ar fresco enquanto tomava seu copo de vinho barato. Enquanto isso apreciaria as belas jovens da escola católica e suas saias. Pena que a católica fervorosa Dona Zuzu não estava lá. Era finada e possuía uma bela gargalhada.

O “toc toc” da bengala antiga e resistente fazia o som da máquina de barbear passar despercebido. A quase inexistente força do grisalho senhor era despejada no pedaço de madeira. Ao escutarem o som cada vez mais se aproximando, Lizete e Josué sumiram como vultos na multidão. Foi bem a tempo de Seu Mameluco colocar os óculos na face. Bem a tempo também dele perceber que não havia nenhuma garota na rua, só homens suados voltando da fábrica. Voltou para o estabelecimento com o copo de cachaça com vinho meio cheio, meio vazio.