Como já se dizia, uma imagem pode valer mais que mil palavras. Mas talvez duas palavras, uma em cima da outra, possam transmitir uma idéia resgatada de uma mentalidade que só podia ser observada em pessoas de certa época. A descoberta foi ao acaso, enquanto observava as novidades artísticas dos meus colegas de DeviantART, um site que sinceramente me proporcionou uma certa felicidade com a possibilidade de expor minhas fotografias. Eis que surge em fundo preto um jogo de palavras que deu um tanto quanto certo. Não várias palavras, mas somente duas. Não estavam unidas, mas uma em cima da outra.
O “você”, escrito em inglês, carregava importância na imagem que chegava aos meus olhos. As letras da palavra estavam em enorme tamanho e eram sustentadas por uma barra que firmava o pensamento do “eu” que se encontrava embaixo. Com braços de ferro, o “eu” sustentava toda aquela grandiosidade do “você” que, lá em cima, aparentava completa tranquilidade. Foi no momento de analisar a imagem que recordei das minhas aulas de Literatura do Ensino Médio. Lembrei do tão perverso Gregório de Matos que, ao falar sobre suas musas de pele branca como a neve, colocava-as em um pedestal. Lembrei de Marília, a musa de Dirceu, que estava em um pedestal do início ao fim da obra. Lembrei então que naquela época tudo era diferente e, mesmo que as mulheres fossem submissas a figura patriarcal, não queria dizer que os homens não seriam submissos a elas quando verdadeiramente apaixonados.
Reconheci no criador da tal arte um amor incontestável por uma menina que aparentemente era sua namorada, algo difícil de ver. Aquele menosprezar do “eu” para sempre focar em “você” parecia ao mesmo tempo tão arcaico, tão encantador, tão exagerado. E aquele exagero todo me fez recordar o exagero das pinturas barrocas. Tão teatrais, tão dramáticas. Artifícios para reconquistar fiéis levados pela Reforma Protestante. Mas quem disse que deram certo? Do mesmo modo, quem garante que colocar uma pessoa amada em um pedestal maior que você vai lhe trazer algo de bom?
Amor próprio. Duas palavras que separadas podem machucar, afastar, nocautear. Duas palavras que juntas podem fazer a diferença. Todos nós temos que ter amor próprio. Quem não tem amor próprio sofre ao amar incondicionalmente um ser que, mesmo em grande pedestal sustentado pela pessoa que ama, pode pular para provocar sua queda. Quem tem amor próprio tem o “eu” do tamanho do “você”. Quem tem amor próprio é forte. Forte para suportar a vida.